As mesas girantes

Um longo artigo assinado pelo conde e republicado nos principais jornais do país causara frisson entre os mais céticos e desconfiados. Um ano antes de Rivail tomar seu lugar à mesa da sra. De Plainemaison, o conde convocou a mulher, os três filhos (crianças de 11 a 15 anos), os botânicos Muret e Reuter e o pastor Tachet, além de “vários domésticos”, para participar de uma experiência em sua casa.

A estrela da noite: uma mesa de freixo redonda, com tampo de 80 centímetros de diâmetro, apoiado sobre coluna de madeira maciça com três pés. Os olhos do conde e de seus convidados ficaram cravados no móvel por uma hora até que fizesse jus à sua definição e se movesse sobre os tacos. Após os primeiros tremores, o impossível passou a acontecer. Com a palavra, o conde:

“Dada a voz de comando, logo a mesa obedecia, e realizava movimentos que nenhuma cumplicidade involuntária ou voluntária teria podido provocar (…). Bate três pancadas, bate dez. Bate com este pé, com aquele, com aqueloutro; levanta-te sobre dois de teus pés, sobre um deles; fica aprumada; resiste ao esforço daqueles que, colocados no lado em que te elevares, procurarão reconduzir-te ao chão.”

Em pouco tempo, a brincadeira ficou mais divertida. Os comensais deixaram de pronunciar suas ordens em voz alta e passaram apenas a sussurrar para o vizinho o número de pancadas imaginado a cada rodada. Instantes depois, a mesa seguia as ordens inaudíveis. No artigo, o conde admitiu ainda um engano cometido por ele e corrigido pela sábia mesa, quando pediu que ela revelasse, ao som das pancadas, a idade de cada um:

“Ela assentiu, apressando-se, de uma forma muito cômica, quando o número de pancadas a bater era algo considerável. Devo confessar, para vergonha minha, que fui corrigido por ela; tendo involuntariamente diminuído minha idade, a mesa, apesar disso, deu 43 pancadas em lugar das 42.”

A sessão terminou com uma reverência da súdita a seu senhor:

“Ordenei à mesa que se erguesse, que se erguesse mais e que se inclinasse para o meu lado, o que foi feito.”

No fim do texto, uma ordem aos leitores: “Aceitai”.

Muitos não aceitavam. E o professor Rivail estava entre eles. Sua postura ainda era a mesma do ano anterior, quando reagiu com ceticismo às descrições do amigo Fortier — especialista em hipnose — sobre o poder de comunicação das mesas.

— Elas falam! Interrogadas, respondem. Uma das mesas usou os pés para ditar magnéticas composições literárias e musicais. — Só acreditarei se me provarem que uma mesa tem cérebro para pensar e nervos para sentir — respondera Rivail.

(Trecho do livro do mês)